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Opinião: a ‘Fuga de Cérebros’ do transporte no Brasil

Por André de Angelo em 17/09/2021 às 19:03
Opinião: a ‘Fuga de Cérebros’ do transporte no Brasil

Um fenômeno que já acontece em diversas áreas e pode atingir de maneira significativa os profissionais da área de transporte

Dadas as complicações que ocorrem em diversas profissões, a “fuga de cérebro” é o termo que pode ser usado para explicar parte da escassez de profissionais de determinadas áreas.

O termo se refere a especialistas, com grande conhecimento prático e/ou teórico, experiência e ambição, que optam pela migração para países com novas oportunidades de trabalho.

Deixar o país de origem pode não ser uma decisão fácil, porém, em países carentes de estrutura e suporte a tantos profissionais, como o Brasil, a emigração se torna uma alternativa que permite, em muitos casos, uma remuneração maior e qualidade de vida.

No Brasil, a “fuga de cérebros” acontece principalmente para os Estados Unidos. É de conhecimento popular que os norte-americanos sempre receberam imigrantes de diversos países para a realização de trabalhos “pesados”, como serviço doméstico, obras etc.

No entanto, há muitos anos o país também é um grande “captador de cérebros”, atraindo talentos de diversas áreas e mantendo especialistas na área da saúde, comunicação, pesquisas entre outros, e isso não apenas do continente americano como em todo o mundo.

Esse também é um dos principais motivos para tantas inovações tecnológicas serem desenvolvidas nos EUA. Acumular o conhecimento de tantos profissionais, que saem dos seus países de origem atraídos por melhores condições de trabalho e possibilidades de crescimento, contribui para o domínio tecnológico que os Estados Unidos ainda possuem.

Para os profissionais de transporte isso não é diferente! Dadas as condições precárias encontradas nas estradas brasileiras, a escassez de profissionais pode chegar ao país com o passar do tempo. E isso não apenas por conta da “fuga de cérebros'', mas também por novas gerações que passaram a seguir outros caminhos e descartar a vida nas estradas. 

Carregado de romantismo, uma sensação de liberdade e muitas vezes uma paixão que era passada de pai para filho, o sonho de ser um caminhoneiro e seguir essa profissão sempre foi algo alimentado, boa parte das vezes, pela própria família.

Não apenas os pais, como tios, primos ou até mesmo amigos próximos que sempre serviram de influência para crianças e jovens, fornecendo ali o primeiro contato com esse universo para os pequenos.

Por meio de histórias, brinquedos ou até fotos, a relação com a estrada segue uma linha tênue entre profissão e estilo de vida, e era um sonho que costumava crescer com as pessoas até que tivessem idade para sentar atrás de um volante.

Na verdade, ainda é! Muitas vezes trouxemos histórias de caminhoneiros ou profissionais envolvidos com caminhão, e sua entrada nesse ramo havia sido exatamente por um desejo passado pela família.

No entanto, o estigma de liberdade aliado ao orgulho de uma profissão tão importante para toda a nação começou a esbarrar com a realidade de um mundo globalizado. Dessa forma, o acesso a tanta informação de outros países começou a evidenciar as divergências que existem.

Enquanto vemos no Brasil tanto desemprego, problemas nas estradas e situações precárias em postos de parada, áreas de lazer e alimentação, em alguns países esses e outros problemas estruturais parecem ser bem menores.

O combustível sobe o preço, o prato de comida nos restaurantes fica cada vez mais caro, e isso torna o custo de vida e os gastos com as viagens ainda maiores.

Enquanto os custos aumentam, os reajustes refletidos em ganhos não compensam essa inflação; e é neste contexto que surge a comparação com os outros países.

Isso porque, a escassez de caminhoneiros, assim como em outras profissões, é uma realidade para os EUA e outros países do mundo.

O fato é que em diversas situações, outros países parecem ter mais condições de trabalho, remuneração e qualidade de vida do que no Brasil. A falta de perspectiva e baixa remuneração começam a “quebrar” essa cadeia que sempre atravessou gerações.

Se antes a profissão de caminhoneiro era passada pelo avô para o pai e depois para o filho, hoje vemos histórias de caminhoneiros que incentivam seus filhos a seguirem outro caminho.

Após longos anos na estrada, por grandes períodos longe da família em jornadas de trabalho extremas e curtos prazos de entrega, além dos perigos enfrentados na diariamente na estrada, a profissão acaba cercada de dificuldades que nenhum pai quer que seu filho passe caso tenha uma opção melhor.

O risco de ser assaltado, o excesso de regulamentações que prejudicam o fluxo de trabalho e, principalmente, a falta de perspectiva para a profissão no país, são fatores que podem trazer consequências futuras.

Será que a escassez de caminhoneiros atingirá o Brasil dentro de alguns anos? Será que realmente o amor à profissão deve ser sempre o combustível para que o brasileiro tenha forças, todos os dias, para enfrentar tantas dificuldades dentro de sua própria profissão?

Se atualmente o país sofre com o excesso de desemprego ao mesmo tempo que muitos integrantes da categoria alegam faltar oportunidades para novos motoristas, a fuga dos profissionais parece cada vez mais justificável.

A luta que todo brasileiro enfrenta para ser bem-sucedido dentro de sua profissão é memorável, mas é compreensível que, quando falamos de profissionais do transporte, buscar alternativas para uma vida melhor é o certo a se fazer.

E dadas as condições precárias e um visível descaso com a profissão em muitos momentos, é possível que a “fuga de cérebros'' continue, aumente e leve cada vez mais caminhoneiros e caminhoneiras para fora do País.

E por isso precisamos refletir: será possível estarmos caminhando em direção a um cenário de escassez dos profissionais de transporte no Brasil? A insatisfação da própria categoria tende a afastar - com toda a razão - cada vez mais novos trabalhadores?

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