Em entrevista exclusiva à revista Caminhoneiro Stênio Garcia, que interpretou o caminhoneiro Bino, do famoso seriado de TV Carga Pesada, afirma que o caminhoneiro é o grande herói brasileiro. “Eu já tinha a percepção de que é ele que percorre todo o País para transportar praticamente tudo, já que somos um País rodoviário.” O ator afirma ainda que o motorista profissional “é o herói trabalhador e é a pele e o estômago do Brasil”. Acompanhe toda a entrevista.
Stênio Garcia – Na década de 50, na escola técnica que eu frequentava, tinha um grupo de teatro amador e eu namorava uma menina que era atriz deste grupo. Para levá-la para casa e ganhar beijinho, eu ia aos ensaios do espetáculo. Eu tinha boa memória e imitava os atores fazendo seus papéis. No dia da estreia de um espetáculo, faltou um ator e lembraram do meu nome, já que eu sabia as falas. Acabei entrando, meio que na força porque senão não ia ganhar beijo da namorada. Fiz o personagem e, como não tinha o compromisso do ator, fiz uma grande farra. E os caras acharam que eu tinha roubado a cena. Aí passei a fazer parte do grupo e comecei a pegar os protagonistas das peças montadas. Até que um dia, tinha atores profissionais assistindo. No final, eles foram falar comigo e perguntaram “Por que você não estuda teatro?”. Aquilo ficou na minha cabeça. Então, comecei a estudar no Conservatório Nacional de Teatro. No primeiro ano, organizaram um festival de estudante no Distrito Federal, que ainda era Rio de Janeiro. Eram quatro escolas de teatro apresentando três espetáculos cada. E eu ganhei o Prêmio Monteiro de Oliveira, concorrendo com mais de 400 alunos. Nessa época, a Cacilda Becker estava montando o seu grupo de teatro e quis saber quem era o ator que tinha ganho a medalha de ouro. Aí eu apresentei um trecho da peça que estava fazendo para ela, e ela me convidou para fazer um estágio na sua companhia. Só tinha a nata do teatro brasileiro. Estreei quase um ano depois como filho da Cacilda numa peça em São Paulo. Aí fui embora e não parei mais de atuar.
Stênio Garcia – Irei chegar aos 70 anos de carreira.
Stênio Garcia – O Bino era mais pé na terra, representava o homem brasileiro bem casado e comportado, ao contrário do Pedro (interpretado por Antônio Fagundes) que tinha a cabeça na lua e era bem namorador.
Stênio Garcia – Na época, fui fazer laboratório com os caminhoneiros, observando o seu modo de vida. Enfim, busquei inspiração no trabalhador brasileiro, do homem rodoviário que vai do Oiapoque ao Chuí, transportando a riqueza do Brasil. Eu e o Fagundes procuramos mostrar as dificuldades da própria profissão, entre elas varar noites dirigindo para levar as mercadorias. Infelizmente, muitos se envolvem com drogas, conhecidas como “rebite” para cumprir essa dura jornada. Em um país rodoviário como o nosso, o caminhoneiro é o grande operário brasileiro. Tentando mostrar essa realidade, eu e o Fagundes acabamos sendo os heróis deles.
Stênio Garcia – Por intermédio do seriado Carga Pesada pude observar o homem brasileiro em todos os níveis de comportamento. Estudei a fundo esse homem que acabou caracterizando toda a minha carreira. Sempre procurei mostrar as dificuldades desse profissional, como a saudade da família, a falta de segurança, frete baixo, diesel alto, ausência de pontos de parada, infraestrutura ruim, entre outros
Stênio Garcia – Hoje, ainda enfrentam essas mesmas dificuldades, no entanto, estão mais ligados ao empresário de carga e atuam como autônomos, agregados ou terceirizados. O motorista está caminhando para ser um operador logístico e não simplesmente dirigir um caminhão. Até os caminhoneiros poderão se enquadrar no modelo de Microempreendedor Individual (MEI). Para se ter uma ideia, os personagens Bino e Pedro eram proprietários do nosso próprio caminhão, uma condição mais privilegiada dentro da profissão.
Stênio Garcia – Sem dúvida, as viagens longas. O Brasil é um país rodoviário com grandes dimensões e as condições das estradas eram e continuam sendo bem precárias.
Stênio Garcia – Sim. Eu e o Fagundes fizemos um curso. A primeira temporada foi transmitida pela primeira vez em 22 de maio de 1979 e o último episódio foi transmitido dia 2 de janeiro de 1981. Em 29 de abril de 2003, a segunda temporada começou a ser exibida e foi até 7 de setembro de 2007. Ao longo da série, foram utilizados os 3 caminhões oficiais: um Scania LK141 V8 na primeira temporada, e na segunda, o Volkswagen Titan 18-310 e um Volkswagen Constellation.
Stênio Garcia – É verdade. Eu e o Fagundes escrevíamos alguns episódios. Através dessas aventuras todas, procurávamos mostrar o emocional e evidenciar o caminhoneiro como herói das estradas. A cada semana, mudavam elenco, convidados e figurantes. Em geral, cada episódio contava com a participação de 30 pessoas. Nós ajudávamos a produzir, escrevíamos e participávamos de todo o sistema da produção. E a gente brincava, às vezes nós escrevíamos as histórias e eu colocava o Pedro em situações difíceis. Eu me lembro que uma vez eu o coloquei dentro de um caixote, cheio de bandidos e comendo cebolas, mas ele fez outras comigo. Ele me fez rastejar para pegar caranguejo e coisas assim.
Stênio Garcia – Aconteciam sempre. A estrada brasileira era muito ruim, de lama, o caminhão ficava atolado. A gente procurava, através do Carga Pesada, falar do problema de saúde, que é muito precário, do risco e do perigo nas estradas. Falar da saudade, do amor, dos ciúmes, que é uma coisa muito forte neles porque a família fica longe e eles cada vez mais distantes. Cada vez que dávamos entrevistas procurávamos mostrar a realidade do homem brasileiro.
Stênio Garcia – Hoje, o caminhoneiro dirige caminhões com muitos recursos tecnológicos para ajudá-lo em todo o trajeto e dando mais segurança. Ele está mais assistido com os novos recursos.
Stênio Garcia – Fantástico apesar da vida ser dura. É o empoderamento da mulher. A todo momento elas conseguem romper esses velhos paradigmas, mostrando que são capazes de atuar nas áreas que desejarem. Competência, perseverança e força (tanto física quanto emocional) não faltam às mulheres.
Stênio Garcia – Respeito muito essa classe. O caminhoneiro é o nosso grande herói e, infelizmente, continuam enfrentando as mesmas dificuldades que antes exibíamos no seriado Carga Pesada. O motorista profissional “é o herói trabalhador e é a pele e o estômago do Brasil”. Um abraço a todos e um ano novo repleto de conquistas e reconhecimento porque você merece!
Fotos: David Aldea / Studio W Mood e João Miguel Júnior
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