17 de Maio de 2024
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Dia 16 de setembro: Dia Nacional do (a) Caminhoneiro (a)

Por Equipe RC em 16/09/2021 às 09:26
Dia 16 de setembro: Dia Nacional do (a) Caminhoneiro (a)

Por isso, realizamos uma homenagem, por meio de uma poesia, que foi publicada no livro “Caminhoneiro Herói”, editado pela revista Caminhoneiro, que está na estrada há 37 anos com você!

Parem o mundo

Vou pisar no freio do mundo. Quero voltar ao tempo de antigamente. Vou engatar uma ré e parar num passado distante, cheio de poesia e encantamento.

Quero ver o meu caminhão parado na porta da minha casa esperando para ganhar a estrada. Quero ver a estrada de barro, a poeira levantando ao vento, os pássaros cantando nas árvores, os bichos sem medo espiando o caminhão passar, a pensão com fogão de lenha, os tropeiros, os mascates, a caravana de cigarros com suas carroças enfeitadas, o pequeno posto fiscal e os caminhões circulando.

Quero viajar no tempo de antigamente, parar na beira da estrada, dormir onde bem entender e acordar com um caminhoneiro batendo na porta, oferecendo ajuda.

Quero ver o caminhoneiro solidário de antigamente, fazendo amigos em cada curva da estrada e seguindo juntos na reta dos caminhões.

Quero ir à cidade grande procurar carga para o meu caminhão, parar na pracinha arborizada junto aos companheiros, sem medo de ser assaltado por assaltantes de plantão.

Quero parar no sinal da esquina e poder olhar a rua à minha frente, admirar os prédios, as pessoas passando, a vida de todos os dias, sem sobressaltos e surpresas.

Quero viajar feliz e se quiser parar na porta da casa da luz vermelha, sem medo depois da relação amorosa inconsequente.

Quero voltar no tempo e ver a professorinha andando com seus alunos estrada afora, no rumo da escola fundamental e dar a carona tão esperada, sem que ela tenha medo.

Quero parar no pequeno posto e ver a alegria nos olhos do moleque graxeiro, a força do moleiro, a habilidade do velho borracheiro, as letras coloridas do pintor de frases de para-choques e a poesia na fala do vendedor de cordel.

Quero subir a Serra da Onça, na velha Rio-Bahia e parar bem no alto para ver a mata em minha volta até onde a vista puder alcançar.

Quero voltar ao Espírito Santo e ver a mata com sua madeira de lei. Quero ver o sul da Bahia com o jacarandá imponente. Quero levar o querosene em latas que alumiavam as noites da região do Contestado e parar na Pensão de Gilberto, em Nanuque.

Parem o mundo para que a moça bonita e romântica possa voltar à janela vendo o caminhão passar na rua da sua cidade e senhoras com o motorista que buzina para ela, como se fosse um beijo de despedida.

Quero viajar sem medo, sem pagar, com o dinheiro de ir e vir. Quero passar nas ruas e estradas sem quebra-molas com bandidos de vigília, sem radares faturando, sem treminhão, bitrem ou sei lá mais o que, sem sobrecarga, sem buracos assassinos e sem balanças descompensadas.

Quero atravessar a Baía de Guanabara, na barcaça, sentindo a brisa do mar, sem engarrafamentos e horários proibidos.

Quero voltar à estrada de antigamente e ler no caminhão a mensagem no para-choque: “Vai com Deus”, porque Deus naquele tempo, ainda não tinha medo de viajar na boleia do caminhão.

Querido Henrique Lessa (in memoriam)

 

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