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Quanto ganha um caminhoneiro no Japão?

Por André de Angelo em 22/05/2021 às 10:07
Quanto ganha um caminhoneiro no Japão?

Mudar de país e tentar fazer a vida fora do Brasil exige adaptação à cultura local, alimentação e o novo clima. Contudo, pensando no financeiro e dependendo do destino, será que essa mudança pode valer a pena?

Embora o Brasil seja o país mais rico da América Latina, possuindo além de fartos recursos minerais (ferro, cobre, etc.), energéticos (petróleo, carvão etc.) e até mesmo biológicos (vegetais, carnes etc.), ainda se trata de um país subdesenvolvido.

Contanto com mais de 210 milhões de habitantes, a nossa população enfrenta principalmente problemas sociais, que prejudicam toda a estrutura do País e o mantém na categoria de subdesenvolvido.

Desemprego, alto índice de criminalidade e falta de segurança, problemas com a saúde pública, educação, moradia… esses são alguns dos principais itens de uma lista que pode ser encabeçada pela desigualdade social, algo que torna o Brasil um lugar bem controverso.

Isso porque, ao mesmo tempo que é uma terra rica em recursos, o país foi marcado por um passado (não tão distante) difícil, que além de moldar e se enraizar em parte da cultura, criou um abismo social enorme que faz do Brasil exatamente o que é.

Ainda assim, tendo em mente algumas melhorias recentes, esses problemas têm um caminho bem árduo a ser trilhado até que o Brasil possa sair da categoria de subdesenvolvido.

Por isso, dadas as diferenças sociais e econômicas com relação a países desenvolvidos e com maior estabilidade financeira, os brasileiros ficam atrás em algo que vai muito além de uma lista com países “melhores” ou “piores”.

Isso é algo que afeta a vida de todos e quando falamos em afetar, diz respeito tanto aos que estão desempregados, quanto às pessoas que trabalham regularmente.

Por tantas dificuldades, mesmo tendo um emprego, quando comparamos com algumas regiões do mundo parece ser desproporcional o ganho x trabalho.

Vamos falar um pouco sobre a vida de caminhoneiro no Japão para exemplificar essa diferença! Vocês devem se lembrar do Cristian, dono do canal Rodando pelo Japão, certo?

Publicamos recentemente duas matérias contando um pouco sobre sua história e a do seu canal, que você pode conferir clicando aqui!

Hoje, com a ajuda do Cristian vamos entender quais as diferenças, possibilidades de ganho e tudo o que torna a vida de um caminhoneiro no Japão diferente do Brasil.

A princípio deixaremos a experiência dele, que vive e entende a dinâmica do país falar, para ao fim concluirmos algo que possa nos ajudar no raciocínio. Confira:

Características estruturais Brasil x Japão

Para o Cristian, a visão do Brasil é:

No Brasil há muita falta de infraestrutura e locais de parada. Você fica dependendo de postos de combustíveis para poder se alimentar e se higienizar, e pernoitar, e hoje vejo que se você não é um cliente tem que sair do estacionamento. No Brasil falta segurança, o que aumenta o número de ladrões.

Há também muitos motoristas sob efeito de entorpecentes ou outro produto, algo perigoso para o trânsito. A malha viária é o mesmo traçado de quando se iniciou as viagens com carro a décadas atrás, muitas serras perigosas.

Na minha opinião as concessionárias deveriam construir uma outra rodovia com um traçado melhor que seria cobrado, teria o custo do pedágio, mas em compensação você teria ganho em eficiência e economia de tempo, e menos problemas mecânicos, já que rodaria em uma estrada melhor planejada para os dias atuais”.

Por outro lado, no Japão:

“No Japão eles investem muito em infraestrutura! Aqui é um país que sofre com terremotos, tufões e isso pode causar um grande dano, mas mesmo assim eles não param de investir.

Fizeram uma rodovia paralela a alguns anos atrás entre Tokio e Nagoia, que ainda falta uma pequena parte para terminar e, estão fazendo outra de Nagoia a Kobe que já tem uma parte concluída.

Você tem uma velocidade média superior a 70 quilômetros por hora e isso é muito bom para as empresas de transporte, algumas áreas de serviço ou paradas nas rodovias expressa possuem chuveiros é pago, mas não sai caro, aí sim vem o planejamento de viagem”.

Quando perguntado especificamente sobre as estradas do Brasil x Japão, Cristian disse:

Sobre o Japão:

“Aqui as estradas são muito boas, as rodovias nacionais que não são pagas mas há muito trânsito e muitos semáforos, pois passa por dentro das cidades e acaba atrasando muito a viagem. Elas são boas para transitar, bem sinalizadas com sinalização vertical e horizontal.

Já as rodovias expressas são muito boas, na sua maioria sem muitos remendos de tapa buracos, várias áreas de descanso, banheiros limpos mesmo na madrugada, sem vandalismo, é bem seguro!”

No Brasil é muito remendo mesmo em estradas pedagiadas, pedágio em pista simples, sem pontos de ultrapassagem, terceira faixa, solavanco em cabeceira de ponte.

Muitas das vezes o asfalto está muito bom e de repente acaba o asfalto e enche de buracos, existe muito mato cobrindo as placas - e isso quando tem placa -, e acredito que há muito desvio de verbas e as empresas que prestam o serviço fazem bem mal feito.

Algumas paradas nas rodovias do estado de São Paulo são boas, na Castelo Branco, mas tem um custo alto para isso, e as refeições desses lugares são caras”.

Como o combustível pesa no bolso dos trabalhadores japoneses?

“Eu sou assalariado como a maioria das pessoas aqui, e o valor do combustível não chega a pesar no orçamento. No caso dos caminhões com certeza a empresa tem acréscimo na despesa do combustível, mas a maioria dos motoristas aqui não desligam o caminhão e as empresas não falam nada e nem cobram média.

A empresa onde trabalho pede para que não ultrapasse o limite de giros para assim poder fazer um pouco de economia, por minha conta eu desligo o caminhão quando posso na hora do pernoite, mas quando é inverno ou verão não tem jeito, tem que ficar ligado direto”.

Qual costuma ser o regime de trabalho mais popular? Os motoristas são bem remunerados?

“A maioria dos brasileiros são empregados na empresa e o sistema de pagamento é fixo. Às vezes eles colocam uma bonificação se ultrapassar a meta.

O salário não chega a ser ruim, o salário em fábrica reduziu bastante e muitos conterrâneos estão migrando para o caminhão. Entre os japoneses não sei muito bem, mas para ser autônomo aqui deve ser difícil, pois não é fácil conseguir a placa de aluguel, o autônomo tem que fichar como um agregado para conseguir a placa e abrir uma empresa para um caminhão só não deve ser compensador.

Existem muitas exigências, como local do escritório, estacionamento do caminhão, o custo não compensa (mais ou menos é isso que sei, já no Brasil você compra o caminhão e já vai pegando o primeiro frete, mesmo sendo pessoa física)”.

Quanto ganha um caminhoneiro no Japão?

Bom, agora que tivemos informações suficientes para entender um pouco mais sobre a vida de caminhoneiro no Japão, vamos analisar os pontos favoráveis entre o Brasil e o Japão.

Como dissemos anteriormente, sair do país que nasceu exige adaptação a uma nova cultura, idioma e culinária, mas tudo isso é só o começo.

No entanto, o que costuma motivar as pessoas a seguir por esse caminho é a questão financeira, que em países com uma estrutura melhor as possibilidades acabam sendo proporcionalmente superiores.

De acordo com Cristian, o salário no Japão difere muito em relação ao tipo de trabalho. “Quem fica fazendo o leva e traz das fábricas para os depósitos fica rodando somente perto. Esse é um serviço fixo que geralmente paga pouco, porém não se faz muito esforço, já que tudo contem pallets para ter eficiência no transporte", disse o caminhoneiro.

“Já se for rodar um pouco mais de um estado para outro, em horário diferenciado do comercial e viagens sem rota fixa, esses já pagam um pouco mais. Se for rota fixa noturno a serviço de coleta expressa, e sem rota fixa diurna com viagem longa, nesses tipos de serviço o motorista não sabe qual vai ser a próxima carga ou o local de carregamento, por isso se paga mais, afirmou.

Para termos uma média de quanto pode ganhar um caminhoneiro no Japão, dos serviços descritos acima o salário pode variar bastante.

Os valores vão de e 250 mil ienes (aproximadamente R$12.000) a 450-500 mil ienes (aproximadamente R$21.000 - R$24.000) mensais, sem considerar os descontos.

Já no caso da carreta é possível chegar a mais de 6000 mil dólares (aproximadamente R $31.000) mensais. “Umas duas décadas atrás ouvi falar que o salário era bem melhor que os dias atuais'', finaliza Cristian.

É fato que quando convertemos esses valores para o Real, a discrepância fica ainda mais nítida. No entanto, precisamos analisar isso com cuidado.

Convertendo diretamente uma moeda para a outra, duas coisas ficam claras: o poder de compra de um caminhoneiro dentro do próprio Japão, ganhando em ienes, é muito superior ao mesmo profissional no Brasil, ganhando em real.

Além do ganho em iene, mesmo sendo uma moeda que 1 iene seja o equivalente a 0,48 centavos (Real brasileiro), ganhar em iene e converter para o real parece colocar qualquer pessoa em outro patamar de vida dentro do Brasil, tudo isso dentro da mesma profissão.

E aí fica o questionamento: Será que o Brasil atingirá esse nível algum dia?

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