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Como é a vida de um caminhoneiro brasileiro no Canadá?

Por André de Angelo em 26/03/2022 às 09:55
Como é a vida de um caminhoneiro brasileiro no Canadá?

“A meta era chegar no Canadá e de lá ver no que ia dar”. Como é a perspectiva de um brasileiro que vive no Canadá? Qual deve ser sua ideia para sair do País que nasceu atrás de uma vida em um ambiente completamente diferente?

Douglas Silva, de 31 anos, é do Rio de Janeiro e conversou com a revista Caminhoneiro para falar um pouco sobre sua vida como caminhoneiro no Canadá. Além de entender como se tornou um motorista fora do Brasil, vamos ver um pouco sobre sua trajetória.

Quais as dificuldades encontradas assim que chegou no Canadá, além dos benefícios e vantagens de morar em outro país. Vamos conferir:

De supervisor de informática a caminhoneiro

Se hoje estamos contando a história do caminhoneiro Douglas, há pouco tempo sua profissão era um pouco diferente. Embora sejam áreas bem distintas, vamos entender como o brasileiro chegou a essa mudança e partiu, totalmente no escuro, para tentar a vida fora do Brasil.

Foi em setembro de 2017 que Douglas chegou em Toronto, no Canadá, sem saber falar nada de inglês e completamente no escuro, se baseando em pesquisas feitas na internet para saber um pouco sobre os procedimentos necessários.

Agora no Canadá, diante de uma nova cultura e sem saber falar inglês ainda, se deparou com o primeiro (e um dos maiores) obstáculos de sua nova jornada. “Por não saber falar o idioma eu tinha dificuldade até para pedir minha comida. Para conseguir isso, eu usava o tradutor do celular”, disse o caminhoneiro.

Sobre o clima, Douglas afirma não ter tido muita dificuldade, pois assim como o inverno costuma ser rigoroso, o verão, proporcionalmente, é bem quente.

“Me adaptei rápido ao clima, pois os verões em Toronto são muito quentes. Eu não tive problema nenhum com adaptação, mas tive amigos que voltaram para o Brasil por não resistirem ao calor nem ao frio”, contou Douglas.

Da chegada ao Canadá aos primeiros passos como caminhoneiro

Após 4 anos trabalhando como supervisor de informática, no Rio de Janeiro, ao final de 2017 Douglas se mudou para o Canadá e deixou, não apenas o país, mas sua profissão também.

Logo na primeira semana, assim que chegou no Canadá, foi atrás das primeiras documentações necessárias para que conseguisse um emprego que viesse. Encontrou um, como ajudante de construção, onde ficou por aproximadamente 1 ano e 6 meses.

No tempo como ajudante de construção suas atribuições eram focadas em limpeza, organização e outras necessidades da construção que não fossem a realização da obra propriamente dita, uma vez que este é o trabalho dos pedreiros.

Foi também nessa mesma época, quando estava há mais ou menos 6 meses morando no Canadá, que Douglas conheceu sua esposa. Mariana Morales Granada é colombiana-canadense, e também foi um dos motivos para que o até então ajudante de obras se tornasse caminhoneiro.

Após oficializar o relacionamento e conseguir seu “Green Card”, Douglas pôde aplicar sua cidadania e conseguir novos empregos. O Green Card é o documento concedido pelas autoridades para que a pessoa tenha visto permanente dentro daquele país.

Agora com o visto

Antes de trabalhar como caminhoneiro e já com o visto permanente, Douglas saiu de Ottawa, onde teve seu primeiro emprego na área da construção, e foi para Toronto, onde trabalhou durante pouco mais de 1 mês em uma lanchonete, fazendo hambúrgueres. Enquanto estava lá pôde tirar sua habilitação e dirigir, o que gerou outra oportunidade.

Foi em fevereiro de 2019 que, agora com permissão para dirigir, o brasileiro passou a trabalhar como Uber, tanto de passageiros quanto entregando compras e refeições. No mesmo período conseguiu um trabalho como prestador de serviços para a Amazon, fazendo entregas.

Foi a partir daí, administrando as entregas para a Amazon e paralelamente fazendo Uber que começou a ganhar mais dinheiro e adquirir certa estabilidade. Seguindo esse ritmo até dezembro de 2020, Douglas manteve os dois empregos até voltar para o Brasil.

A visita, que durou 4 meses, foi na verdade para cuidar de seu pai que estava doente na época. No entanto, junto com ele vieram sua esposa, para conhecer o Brasil, e o filho que os dois tiveram juntos em seus anos de casados.

Após a visita, Douglas e sua família voltaram para o Canadá e o brasileiro continuou trabalhando com as entregas, tanto da Amazon quanto da Uber.

Assim surge a oportunidade de trabalhar como caminhoneiro



De volta ao Canadá, durante uma conversa com sua esposa, um primo dela já trabalhava como caminhoneiro e despertou sua atenção ao saber sobre as possibilidades de ganho trabalhando como motorista profissional. Foi ali, na conversa da sua esposa e o primo dela, que Douglas viu uma nova oportunidade.

Depois de saber sobre essa oportunidade foi atrás do processo de tirar a carteira, o que custou cerca de 5 mil dólares na época. Então, em maio começou a tirar a carteira para se tornar caminhoneiro, algo que trouxe de volta a barreira linguística novamente.

Embora consiga viver bem pelo país, entender, conversar e se expressar adequadamente, até hoje o brasileiro possui certa dificuldade com o inglês, o que aumentou consideravelmente a dificuldade para tirar a carteira.

Contudo, após aproximadamente 25 dias o motorista conseguiu sua habilitação, algo que precisou de certa dedicação em um processo bastante complicado em que todos ali estavam sujeitos a reprovar a qualquer momento.

Para aprender o passo a passo, conheça o procedimento para se tornar caminhoneiro no Canadá clicando aqui!

Após ser aprovado no teste surgiram as oportunidades

Quando já estava com a permissão para ser caminhoneiro, a primeira pessoa com disposição a ensinar sobre a profissão, e a quem Douglas é muito grato, foi um motorista que conheceu na internet.

Diego, a pessoa disposta a ensinar, conheceu o brasileiro em um Grupo, na internet, e após algumas conversas convidou Douglas para conhecer um caminhão e mostrar um pouco como é a rotina de um caminhoneiro.

Depois do convite e de conhecer um pouco sobre a profissão, após dois dias, o brasileiro foi passou a trabalhar na mesma empresa que seu amigo, onde ficou por um breve momento e, logo após, migrou para outra do mesmo segmento atrás de possibilidades maiores de ganho.

Até então fazia pequenas entregas de materiais usados em construções, como gesso, madeira e outros objetos, mas, um dia específico, viu uma vaga que tinha sido postada quase que imediatamente em um grupo de caminhoneiros.

“A vaga foi publicada às 16:13, e quando deu 16:14 eu já estava ligando para o cara querendo saber. Foi um papo muito bom e, cara, ali eu senti que ele gostou de mim e que eu conseguiria a vaga”, contou Douglas, empolgado.

“Aqui foi onde vi o dinheiro de verdade”

Agora em uma empresa nova, Douglas passou por novos desafios, e afirma que o trabalho, embora pesado, vale muito a pena. Além de dirigir o caminhão, sua atribuição também envolve carregar e descarregar, e até hoje o maior desafio que encontrou foi no inverno.

“As circunstâncias do tempo não são fáceis” com neve não dá pra controlar o caminhão direito. Por isso, o trabalho de caminhoneiro aqui no inverno é dobrado, pois além de pesado também é muito perigoso”, alertou o caminhoneiro.

Atualmente, Douglas trabalha em um caminhão Kenworth T8 Series, que é manual e possui 18 marchas. Quando foi contratado, durante sua entrevista foi franco ao dizer que não tinha experiência com caminhões manuais, pois tinha operado automáticos antes.


No entanto, com o passar do tempo e com a ajuda de amigos, foi se familiarizando com o modelo, e hoje trabalha em rotas curtas, o que possibilita sempre dormir em casa.

Sobre a vida no Canadá

  • Na sua visão, como é a vida de um caminhoneiro no Canadá? Vale a pena?

“Vale muito a pena. Aconselho a todo mundo que quiser, quando sair do País procurar um emprego na área de transportes, com caminhão, ou na área da construção, aprendendo a fazer casas. Lá também tem muitas oportunidades. Ainda sobre ser caminhoneiro, vale muito a pena. É um trabalho muito valorizado aqui no país, pois movimenta tudo”, contou Douglas.

  • Como é sua relação com a cultura? Gosta de morar aí?

“Estou pelo dinheiro, para trabalhar; não gosto da cultura. Toronto é bem violento, mesmo sendo mais seguro que algumas regiões dos Estados Unidos. Vejo que aqui tem muita estrutura, em hospitais e escolas, mas poucos profissionais”, disse Douglas.

“A comida também não gosto. Em casa comemos arroz e feijão, mas nas ruas ela é muito ‘americanizada’. Tenho gratidão ao Canadá pois mudou a minha vida financeiramente, mas quando me aposentar não tenho intenção de morar totalmente aqui. Comprei uma casa no Brasil, e a ideia é ficar aqui e aí, passando o inverno do Canadá no Brasil”, finalizou.

  • E sobre a greve do Canadá?

“O foco era derrubar a obrigatoriedade do passaporte de vacinação na fronteira. Os caras brigaram e derrubaram a exigência, pois um caminhoneiro que ganha por milha não tem condição de ficar horas parado na fronteira para apresentar um caminhão.”

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