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Caminhões como silos

Por Revista Caminhoneiro em 28/06/2016 às 23:09
Caminhões como silos

Por falta de visão, dinheiro, estratégia e inteligência, o Brasil perde competitividade e transforma uma imensa frota de caminhões em silos de armazenagem de milho. [gallery link="file" size="full" ids="3973,3966,3967,3968,3970,3971,3972,3969"] O milho é produzido no mundo inteiro. Alguns países tiveram a visão mais prospectiva do que o Brasil e viraram potências nesse item. EUA, China e a Comunidade Europeia, são os maiores produtores do mundo. Esses países viram que o milho, além de ser um cereal muito importante, precisava ocupar o espaço para que eles se transformassem em grandes produtores de proteínas nobres e depois, até de etanol. Os Estados Unidos chegaram a destilar 150 milhões de toneladas para o etanol, mas nunca conseguiram produzir o suficiente para atender o mercado. Esses países, precisando de milho e sendo inteligentes, estimularam os produtores através de políticas públicas muito objetivas, inclusive com subsídio. Todos eles subsidiam a produção do milho e com isso, vão ganhando o mercado internacional além de reduzirem as importações. “Aqui no Brasil é o inverso”, reclama Alysson Paolinelli, presidente da Abramilho – Associação Brasileira dos Produtores de Milho. “O governo penaliza os produtores de milho. Aqui você tem tributos, não tem ou quando tem crédito rural é muito caro. Não tem preços mínimos nem seguro. Isso são políticas públicas fundamentais a qualquer país para ser um grande produtor de milho. Aqui, somos grandes produtores de milho por teimosia de quem planta”. Mercado “A safra de 2015 foi razoável. Foi menor do que o que o Brasil deveria ter produzido”, compara Paolinelli. “O tempo foi razoável na chamada safrinha e atendeu uma demanda de forma muito reduzida, especialmente a exportação. O Brasil tem condições de exportar mais, mas não exportou. Foram colhidas 80 milhões de toneladas de milho”. O Brasil tinha tradição de plantar o milho como cultura de verão, entre os meses de setembro e outubro, colhendo em março e abril. Pelo preço e benefício que a soja representa como leguminosa na recuperação de solos degradados, seu plantio tem crescido muito mais que o do milho, com quem competia na mesma época de plantação. Por ironia do destino, o aumento do plantio da soja obrigou os agricultores a procurar palha para o cultivo da soja. Tentou-se o capim, mas em um determinado momento surgiu o milho com fornecedor de palha e acabou nascendo uma oportunidade de se colher uma segunda safra de milho, depois da safra normal, chamada de “safrinha”. As plantadeiras atuais são capazes de plantar em cima dessa palha que afunda o fertilizante e a semente, protegendo o solo, o que tem melhorado muito as condições de plantio no Brasil. Como o milho começou dar muito certo, os agricultores chegaram à conclusão de que além de produzir a palha eles podiam produzir o milho em uma segunda safra que foi chamada de safrinha. A safrinha é plantada a partir de janeiro. Colhe a soja e planta imediatamente o milho safrinha. Com o advento de sojas mais precoces, está se conseguindo plantar o milho mais cedo e essa safrinha passou a ser a “safrona”. Se planta milho em setembro e outubro e a “safrinha”, de janeiro a março. “A expectativa da safra total para este ano é de 83 milhões de toneladas. Isso se São Pedro nos beneficiar como nos beneficiou no ano passado. Precisamos de chuva e na maior parte das regiões não está chovendo, lamenta o presidente da Abramilho. Ele culpa a falta de iniciativa do governo por esta situação. “O governo não era um plantador tradicional de milho”, lembra Paolinelli. “Às vezes plantava, outras não e importava. Isso não transmitia segurança aos consumidores externos que viam o Brasil mais como um concorrente no consumo do que como um fornecedor”. Com a “safrinha”, o Brasil passou a ser um grande exportador. Em 2012, chegou a ser o maior exportador de milho do mundo, mesmo com os Estados Unidos plantando cinco vezes mais que o Brasil. O grande problema para sermos um dos maiores plantadores de milho do mundo, segundo o presidente da Abramilho, é a falta de estímulo que acaba limitando a produção. O milho é um cereal que tem conseguido no mundo inteiro, políticas públicas muito efetivas. “Aqui no Brasil, a logística é ruim, difícil, deficitária, custosa e o governo ainda coloca tributos sobre ela”, reclama Paolinelli. “Falta planejamento estratégico. O Brasil já produz mais de 200 milhões de toneladas de grãos e precisava sensibilidade, de ter planejamento, investimento em logística, em estrada de ferro e de rodagens e em rios. Temos uma possibilidade enorme com nossos rios navegáveis”. Ele lembra aqueles que deveriam saber disso, que o rio Araguaia/Tocantins pode ser para o Brasil hoje, o que o rio Mississipi foi para os Estados Unidos na década passada, com uma grande vantagem. Nos Estados Unidos, para usar o rio Mississipi, foi necessário a construção de 106 eclusas. No rio Araguaia/Tocantins, seriam necessárias apenas duas. Uma na usina que foi construída e outra em uma ilha com muitas pedras. Essa hidrovia transportaria cargas da Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Para e Tocantins em direção ao mar. “O ideal seria que essa carga toda fosse parar em portos fluviais e deles, por meio de caminhões, chegassem aos portos pelo sistema de cabotagem marítima, explica Paolinelli. “Apesar de todos os percalços, o Brasil está crescendo na exportação de milho que gira em torno de 30 milhões de toneladas/ano. A China é a maior compradora, mas vendemos para os Estados Unidos também, mesmo sendo um dos maiores produtores do mundo. Ele compra para fazer etanol, o que o Brasil ainda não faz”. Outro problema é a falta de investimentos em infraestrutura e na garantia de um preço mínimo. “O produtor quando planta, tem uma expectativa de colher uma certa quantia, mas quer ter um preço mínimo. Tem aquela regra de safras altas, preços baixos, safra fraca, preços altos e o produtor fica naquela expectativa de que o preço mínimo funcione”, explica o presidente da Abramilho. “Mas o governo diz que não tem dinheiro e o preço mínimo não funciona. É como um prédio no qual o síndico anuncia que vai faltar água. O que acontece? A água acaba imediatamente porque cada morador do prédio vai querer pegar a água”. Segundo ele, em países inteligentes, o preço mínimo funciona há mais de 40 anos, além disso, existe o seguro e o subsídio ao plantador que corre risco de chuva e seca muito grande. Também tem o risco de mercado. O agricultor planta milho prevendo R$ 40,00 a saca, por exemplo. Quando vai colher, a safra foi muito boa, tem milho demais no mercado e o preço cai para R$ 20,00 a saca. O que fazer? “No exterior tem o seguro”, compara Paolinelli. “As seguradoras pagam a diferença e o agricultor recebe os R$ 40,00 por saca. O preço mínimo teria que ser bancado pelo governo, com a Conab – Companhia Nacional de Abastecimento comprando a produção e garantindo o preço mínimo”. A revolta do presidente da Abramilho com a direção da agricultura não para por aí. “O Brasil, em vez de proteger, dar as mesmas condições dos nossos concorrentes no exterior, penaliza os produtores, cobra tributos sobre o óleo diesel, sobre o caminhão, sobre as estradas. É uma burrice em relação a um produto que o mundo vai precisar cada vez mais”. Ele aponta estudos internacionais que mostram que a demanda por milho no futuro será astronômica. Estima-se em 400 milhões de toneladas ao ano e o Brasil é o único país que tem condições de produzir isso. Mas Paolinelli alerta que se não houver competência do governo para aproveitar essa grande janela que se abrirá, iremos perder uma grande oportunidade. Se não bastasse a falta de crédito e os tributos, o transporte do milho é quase que uma operação de guerra. Segundo o presidente da Abramilho, a qualidade das estradas é muito ruim, é uma epopeia para tirar o milho das plantações. “Caminhões grandes não conseguem entrar na plantação. As estradas vicinais são péssimas, as troncos nem sempre são boas e as chamadas vias principais também não chegam a ser suficientes”, reclama Alysson Paolinelli. “Precisavam ser duplicadas, chegando ao porto. E no porto, uma logística eficiente para acabar com as enormes filas de caminhões. Por incrível que pareça, o Brasil não tem armazenamento para todo o milho que produz”. O presidente da Abramilho afirma que o governo fez um programa para construir silos de armazenamento que não saiu do papel. Ele faz um alerta importante e muito triste: continuamos com 40 milhões de toneladas sem capacidade de armazenamento. Estamos estocando esse volume em carrocerias de caminhões, que é o estoque mais caro do mundo”, desabafa Paolinelli. Portos prontos Em 2015, o Porto de Paranaguá escoou 4,11 milhões de toneladas de milho. Foi levemente abaixo do volume movimentado no ano anterior, especialmente pela escolha do produtor rural em escoar parte da produção de soja que ainda estava estocada. Mesmo assim, em dezembro bateu o recorde de exportação de milho para aquele mês, com 646,7 mil toneladas movimentadas. Em 2014, o volume total movimentado do grão foi de 4,20 milhões de toneladas. O Porto de Paranaguá começou o ano movimentando bem o milho, com índices superiores aos registrados no ano passado. Em janeiro foram exportadas 737 mil toneladas (26% acima de 2015), em fevereiro foram 522 mil toneladas (220% acima do ano passado) e em março o registrado foi de 299 mil toneladas (500% superior à marca de 2015). Com isso, já foi movimentado o dobro neste ano (1,56 milhão de toneladas) nos três primeiros meses do ano. A expectativa é que a movimentação supere o registrado em 2015. A soja ainda lidera as exportações que acontecem pelo Porto de Paranaguá, tanto em grão (8,5 milhões de toneladas anuais) quanto em farelo (5,5 milhões de toneladas anuais). O milho vem logo atrás, empatado com o açúcar, movimentando entre 4 e 4,5 milhões de toneladas ano a ano. A grande maioria, mais de 75%, do milho exportado pelo porto é produzido no interior do estado do Paraná. Produtores do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás também utilizam o terminal paranaense. Por isso o Porto de Paranaguá canaliza todos os esforços para receber os caminhoneiros da melhor maneira possível. Tem um pátio de triagem que é público e gratuito, com mais de 1,5 mil vagas. O motorista que chega a Paranaguá encontra uma estrutura de qualidade para passar algumas horas descansando enquanto aguarda a chamada do terminal. O pátio oferece total segurança, estrutura de banheiros e vestiários, lojas, lanchonetes, restaurantes, acesso à internet e vagas para todos. Em média, dependendo da época e da operação dos terminais, os caminhoneiros esperam entre 4 e 6 horas para descarregar, porém, em um ambiente com toda a infraestrutura e segurança que ele precisa. Até 2011, o Porto de Paranaguá conviveu com filas quilométricas de caminhões aguardando para descarregar. Em virtude de uma mudança no sistema de chamadas dos terminais as filas acabaram, mas os caminhoneiros podem ajudar. Basicamente, o que o Porto precisa é que os caminhoneiros colaborem e só se dirijam com carga para Paranaguá quando estiverem com suas senhas para descarregar liberadas, evitando contratempos na chegada ao porto.

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